quinta-feira, 6 de setembro de 2012

O Legado Nórdico

É comum, hoje em dia, atribuir à palavra VIKING o típico esteriótipo de brutamontes de dois metros, barbudo e com cornos em seu elmo que viveu na região da Escandinávia. Tal esteriótipo é, no entanto, fruto da romantização do indivíduo nórdico do Século X construída pelas óperas do início do Século XX. Abaixo, segue uma caracterização aproximada do que seria um guerreiro viking:


O próprio termo 'viking' em si é um tanto quanto vago. Viking é a designação dada aos guerreiros pilhadores vindos do norte europeu (países como Dinamarca e Noruega) para saquear e estabelecer colônias em lugares como a Grã-Bretanha e a costa francesa, de tal forma que todo viking era nórdico, mas nem todo nórdico era um viking.

Os vikings provindos de onde hoje se encontra a Dinamarca eram de origem Teutônica, que se ramifica em diversos outros grupos culturais, tais como os Anglos, os Saxões, os Frísios, os Danos e os Jutos. Todos esses grupos, com exceção dos Danos, partiram para um domínio de onde hoje se tem a Grã-Bretanha e deram origem ao povo inglês, além de estabelecerem rotas para a Normandia e o Mediterrâneo (indicado pelas linhas amarelas no mapa abaixo). Os noruegueses, de origem escandinava, também percorreram uma rota semelhante, com a exceção de que estes partiram também em direção ao atlântico, descobrindo e colonizando a Islândia e a Groenlândia e tendo chegado inclusive ao norte canadense (linha branca no mapa abaixo).



Já aos suecos, sendo estes de origem majoritariamente escandinava, a designação 'viking' é de certa forma equivocada, mesmo aos guerreiros pilhadores. Enquanto que os povos da península da Jutlândia e da Noruega expandiram suas terras para além do atlântico e do norte ocidental europeu, os 'Varegues' da Suécia expandiram-se em direção a Constantinopla, além de fundarem o Primeiro Reino da Russia, com capital em Kiev, e dominarem a Finlândia, estabelecendo imensas rotas comerciais (como indicado no mapa acima pela linha avermelhada)




O mapa acima indica os locais de assentamento do povo nórdico durante os séculos XVIII, XIX, X e XI, estando cada um representado por suas respectivas cores. Em verde, tem-se áreas que eram frequentemente sujeitas a invasões vikings, mas que quase não possuiam assentamentos.

Mas e o legado cultural deixado por esses povos? Primeiramente, a tecnologia naval utilizada por eles só fora equiparada após o surgimento das caravelas, cerca de 500 anos depois. Construídos de madeira e sempre com o casco de duas faces, além da presença de remos e um mastro único, os cascos eram recobertos com pele de animal, o que permitia a vedação contra a água. Existiam, no entando, os navios de guerra, que eram bastante estreitos e com mais remos que o comum, o que permitia uma locomoção extremamente veloz em espaços que a maioria das navegações não poderiam se locomover.


Acredita-se também que, por conta de tal avanço naval, os vikings foram o primeiro povo europeu a chegar na América - 500 anos antes de Cristóvão Colombo. A área onde hoje encontra-se a zona do Golfo de São-Lourenço, Nova Brunswick e Nova Escócia fora explorada por Leifr Eiríksson e denominada de 'Vinland' (terra das vinhas). Uma pequena aldeia fora estabelecida naquele local, de clima mais ameno do que o que se tinha na atual Groenlândia e, era utilizado como um 'quartel' para as expedições de verão. Uma equipe de arqueólogos, em 1964, encontrou vestígios de tal assentamento, que antes disso era considerado por muitos apenas uma 'fantasia'. O sítio era composto por oito edifícios, dos quais três deles com capacidade para cerca de 80 pessoas, além de uma oficina de carpintaria e uma forja com tecnologia de extração de ferro idêntica à dos povos escandinavos. Este assentamento, no entanto, foi marcado por conflitos entre os vikings e os nativos, e, mesmo com a vitória viking nas disputas relatadas, verificara-se que a permanência naquele local estaria constantemente sob hostilidade. 

Reconstrução atual de uma aldeia Viking em L'Anse aux Meadows, no Canadá

Por fim, mas não menos importante, um dos principais legados dos povos escandinavos que está presente até hoje na sociedade é o AlÞingi (ou Althing). Não reconhece o nome? Pois então, AlÞingi  é o nome do Parlamento Islandês - o primeiro do mundo, que funcionava, tal como o nome sugere (AlÞingi -> Althing -> All-thing -> Todas-as-coisas), como uma Assembleia-Geral. Fundado no ano de 930, na cidade de  Þingvellir, era tido ao ar-livre. Lá, reuniam-se os mais poderosos líderes da época para discutir a respeito da legislação e da própria justiça, embora todo e qualquer homem livre fosse permitido a participar. O parlamento também cumpria a função de judiciário - além do legislativo. Havia também o Lögmaður, cargo baseado na tradição oral germânica, cuja função era recitar oralmente o conjunto de leis de determinado lugar (tal cargo existe até hoje na Suécia, Finlândia e Noruega)

Local das ruínas do antigo AlÞingi, situadas na cidade de Þingvellir





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