quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Captain Tsubasa e o nacionalismo




            Captain Tsubasa ou Super Campeões foi um dos melhores desenhos da minha infância. Tudo bem que o desenho é mais voltado para o público masculino, até porque aparentemente a história fala sobre futebol. Bem, a verdade é que o anime é bem mais do que isso ele não fala só de futebol, mas ele usa o futebol como instrumento para falar de algo maior.
            Isso parece um pouco complicado, certo? Bem, eu vou começar a explicar sobre o anime – para aqueles que não o conhecem – e depois irei mostrar sobre o que ele realmente fala. Quem sabe assim vocês não se animam para assistir ao menos alguns dos 128 episódios.
            A história gira em torno do futebol e do protagonista Oliver Tsubasa que começa a série no ensino fundamental e termina entre os 20 e 30 anos. Tsubasa é um personagem cativante sendo humilde, mas orgulhoso, amigável e tem como objetivo tornar-se o melhor jogador de futebol do mundo. Ele começa jogando em um time entre amigos, depois vai para um time de colégio e vai indo cada vez mais longe. Chega a jogar na Europa e depois vai para a copa mundial de futebol representando o Japão.
            Agora vamos fazer uma análise sociológica do anime e mostrar alguns fatos que para criancinhas inocentes, como eu era quando me deparei pela primeira vez com este desenho na TV, passam despercebidos.
            Para começar quem entende um pouco de futebol – o público alvo do anime que são garotos entende – sabe que a seleção japonesa de futebol é péssima. Então por  que os protagonistas são japoneses? Nunca houve um jogador realmente notável que veio do Japão, se você perguntar isso para um garotinho ele dirá que essa é a graça, ver o protagonista e seu time vencendo obstáculos para mostrar que um garoto japonês também pode jogar futebol.
            Tudo bem que existe o caráter da dificuldade do protagonista para cumprir seus objetivos que faz toda diferença e torna um anime mais interessante. Mas, por  que justo o Japão? Simples o anime foi feito sobre encomenda com  o objetivo de promover o esporte no Japão. De fazer com que os japoneses quisessem mostrar que podem jogar futebol e mostrar para o mundo que são realmente bons. E ao menos internamente o anime inconscientemente ajudou a melhorar o moral dos jogadores japoneses.



            Mas por que isso? Essa ideia está totalmente vinculada com o nacionalismo, o anime praticamente grita que tem total caráter nacionalista. Para começar vou definir o que é nacionalismo e aposto que a maioria de vocês já vai entender o que quero dizer sobre a ligação dos dois.
Nacionalismo é a ideologia na qual o individual deve lealdade ao Estado Nacional, ele se importa com o estado do seu país. Se o seu país entra em guerra e perde parte do território onde você está, o indivíduo não deixa sua cultura para trás. É o entendimento de que pessoas estão unidas em um mesmo território por tradições de língua, cultura, história, religião e/ou interesses em comum.
Super Campeões – Captain Tsubasa – têm o caráter de trazer de volta o nacionalismo ao povo japonês de uma forma mais forte ao fazê-los voltar a acreditar em si mesmos. Para começar o protagonista Oliver Tsubasa é apresentado como um garoto novo que ninguém sabia exatamente como jogava futebol. Ele começa em um time fraco que era conhecido por não vencer nenhum jogo. Mas ai está a parte heróica do anime, o garoto é realmente bom no esporte. Ele tem um jogo realmente bom e o mais importante quando ele está no campo todo o time parece jogar melhor.
A primeira pessoa que acredita no potencial do garoto é um treinador brasileiro e ex jogador da seleção – sim o Brasil tem uma grande importância no anime – e  ensina dois movimentos no futebol que seriam verdadeiramente importantes. Além disso, ele é como o técnico para Tsubasa, além de chamar o garoto de astro do futebol, ele foi o primeiro que viu o potencial do garoto.
Quando o Japão pela primeira vez manda um time jogar um campeonato de futebol – o campeonato de juniores, ou alunos de ensino médio – que é sediado na Europa., o locutor dos jogos sempre dá destaque ao fato de que é a primeira vez que o Japão participa e o modo como os outros times e jogadores reagem foi cuidadosamente pensado.



Para começar quando o assunto é futebol e principalmente um país enfrentando o outro a coisa já fica polêmica. Todos querem que o seu país vença e todos acham que são melhores então ai já vem um sentimento de patriotismo entre os jogadores que enfrentam o time japonês. O que muda é a forma como se comportam. No início, a maioria fala que os japoneses são fracos, que vão colocá-los no seu lugar, só que o time japonês tem vários jogadores relativamente bons e que tem força de vontade e por mais difícil que a partida seja eles acabam melhorando e jogando cada vez melhor.
Apenas um jogador diz que não importa de onde a pessoa vem, mas o jogo que ele faz. Isso tem uma pegada bem importante porque conforme o protagonista vai crescendo ele chega a ir jogar fora do Japão para melhorar seu jogo e sempre sofre preconceito.
Primeiro ele joga no Brasil e de cara dizem que japoneses não sabem jogar bola, que ele deveria desistir. Ninguém põe muita fé nele, dizem que ele só conseguiu um teste por conhecer o Roberto, mas o seu jogo se mostra bom e vai melhorando com o passar do tempo até ser reconhecido em todo pais.



Mais tarde o protagonista vai jogar na Europa e mais uma vez é discriminado por ser japonês. Porém o mais interessante é que mesmo  alguns jogadores do principal time japonês da saga indo jogar em outros países para melhorar seu jogo, sempre que tem uma competição internacional, eles voltam a jogar pelo Japão. Não importa onde estejam ou o fato de receberem propostas para jogarem no time de famosos países Europeus, eles querem jogar pelo Japão. Porque eles querem jogar pelo Japão? Porque é o país deles, eles querem que o país seja o melhor do mundo, eles querem mostrar que japoneses podem jogar bola e querem que o país seja reconhecido. Isso é bem marcante.
De forma sutil é possível ver que a fisionomia dos jogadores vai mudando com o passar dos episódios, quem vê todos seguidos não repara, mas quem vê episódios de diferentes fases do anime (primeiro time, campeonato nacional, campeonato internacional de juniores, quando joga em um time brasileiro, em um time europeu e quando vai para a copa do mundo) nota que houve mudanças nos personagens. De forma sutil, foi mostrado com perfeição que os personagens cresceram e continuam crescendo.
O final do anime não é exatamente um final, é o time japonês se reencontrando para disputarem juntos a copa mundial de futebol. O fim do episódio são os times das nações se encarando dando a entender que não tem um fim. Que cada um pode criar um final, mas que o povo japonês é tão capaz de ir longe quanto qualquer outro.


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